Por que ainda cozinhar?
Não é raro amigos e até familiares questionarem: “Por que você cozinha tanto?”. A primeira resposta (e a mais óbvia) é porque eu gosto. Mas esta é uma reflexão que vai bem além do simplesmente gostar, faz parte de uma conscientização muito maior sobre o que eu como e o porquê de fazê-lo.
Durante alguns anos me alimentei basicamente de produtos super “práticos” e rápidos (lasanha congelada, enlatados e preparações semiprontas em pó, daquelas que a gente abre o pacote, joga na panela com um tanto de água e em poucos minutos já está pronta). “Gastei” bem menos tempo na cozinha, é verdade, mas até hoje carrego algumas sérias consequências: uma pré-diabetes, ou resistência à insulina, e uma constante briga com o mau colesterol e uns quilinhos a mais que não me largam tão facilmente — por mais equilibrada que seja minha alimentação atualmente.
Pois a minha resposta mais elaborada à questão é: eu cozinho tanto principalmente para comer comida de verdade, para saber exatamente o que coloco no prato e para dentro do meu corpo.
Sim, escolher e comprar os ingredientes dá trabalho. Descascá-los, decidir as combinações e as melhores técnicas para o preparo, esperar o cozimento, servir a comida e depois ainda lavar a louça também dá trabalho. Mas, para mim, cozinhar é uma terapia.
Retomando à pergunta principal, “Por que ainda cozinhar?”, a resposta deveria ser muito simples: porque ainda comemos. Não é um excelente motivo? 🙂
O escritor Mia Couto, no livro O Fio das Missangas, diz que “Cozinhar não é um serviço. Cozinhar é um modo de amar os outros“. Eu acredito muito nisso e ouso acrescentar que é também um modo de se amar. Aliás, complemento dizendo que abrir pacote ou lata não envolve amor — ingrediente imprescindível em qualquer refeição.
É óbvio que essas facilidades são válidas na cozinha e eu mesma consumo alimentos processados de vez em quando, já que não dá para ter todos os dias legumes e verduras e grãos orgânicos e frescos à disposição em casa. A correria do dia a dia nos impõe condições que nem sempre são tão perfeitas quanto gostaríamos, entretanto o que procuro reforçar é que produtos industrializados e com tantos aditivos não devem ser as nossas primeiras escolhas.
Se a gente prioriza a comida de verdade na nossa alimentação diária, um pouquinho de conservante, espessante e acidulante uma vez ou outra não vai fazer um estrago assim tão significativo — um exemplo é a minha paixão já não mais secreta pela salsicha. Ou seja, o segredo é optar pelo equilíbrio em qualquer situação — como dizia Oscar Wilde, “Faça tudo com moderação. Inclusive ser moderado”.
Por exemplo, macarrão instantâneo no jantar, todas as noites, é uma coisa que me dói fundo no coração. E existe muito pai e mãe (com condições financeiras e esclarecimento, diga-se de passagem) que “alimenta” os filhos assim. Tem coisa mais triste? Como alguém pode preferir dar a quem tanto ama uma dose altíssima de sódio, gordura e produtos químicos dia após dia?
Miojo é um clássico da alimentação infantil, sim, e eu inclusive já comi muito (de tempos em tempos até mato as saudades) — mas na minha casa sempre foi bem mais comum jantarmos sopas de legumes da época preparadas em grande quantidade, congeladas em potinhos plásticos e aquecidas no fogão. E hoje há tantas alternativas mais saudáveis e acessíveis, mesmo para quem não tem muito tempo ou não tem muita prática na cozinha… sopinhas naturais já congeladas, pratos equilibrados prontos em supermercados e/ou restaurantes, tortas e salgados feitos com massa integral e recheios saudáveis. É só uma questão de saber escolher conscientemente e considerar todas as consequências de cada opção.
Você sabia que os macarrões instantâneos industrializados, por exemplo, têm quase a mesma quantidade de calorias e de gordura que uma porção de batata frita? E mais da metade da quantidade de sódio indicada para consumo por dia, mesmo nas versões light? Agora sabe e não tem mais a desculpa da ignorância. 😉
Quer uma dica tão fácil e prática quanto? Aposte no Macarrão instantâneo supersaudável, que fica pronto nos mesmos 3 minutos mas é muitíssimo mais saudável. Outras opções de comida saudável e gostosa para crianças são as Panquecas coloridas, o Filé de frango preguiçoso, as Almôndegas superfáceis ao molho, e até um Macarrão com queijo no micro-ondas (Mac ‘n’ Cheese na caneca, com ou sem brócolis), por exemplo. E o mais gostoso é envolver a criançada no preparo das refeições, para conhecerem os ingredientes e irem experimentando as novidades.
Aproveite e confira 8 dicas para melhorar a alimentação das crianças. Quanto antes os pequenos começarem a se familiarizar com o sabor de comida de verdade e também com a alquimia das panelas, mais cedo se sentirão seguros para caminharem sozinhos — e consequentemente menos porcaria, comida semipronta e congelada farão parte da sua alimentação. É um aprendizado para a vida toda!
Como diz a ilustração abaixo da Maira Kalman para o livro “Food rules: an eater’s manual”, do Michael Pollan: Nós sempre conseguiremos tempo para as coisas que realmente importam. Cozinhar importa.
É uma questão de escolha. É uma questão de amor. 😉
Mi
3 de outubro de 2015 em 15:26
Sensacional, perfeito! Abraços, Mi.
Camila Duarte
3 de outubro de 2015 em 16:06
Oi Luh,
Muito bom o texto!
Adorei! Beijão
Luciana Carpinelli
3 de outubro de 2015 em 16:30
Obrigada, Mi, pela visita e pelo comentário. 🙂
Luciana Carpinelli
3 de outubro de 2015 em 16:30
Oi, Cá. Obrigada 🙂
Beijo
angela
3 de outubro de 2015 em 18:29
sensacional, parabéns exatamente isto que eu penso!
Luciana Carpinelli
3 de outubro de 2015 em 18:39
Obrigada, Angela!
Que honra receber este comentário de você 🙂
beijo
O que houve com a couve
4 de outubro de 2015 em 13:06
Muito obrigada Lu por ter me recomendado esse texto.
Gostei bastante! Parabens e continue assim, beijo grande
Luiza
Luciana Carpinelli
4 de outubro de 2015 em 15:03
Luiza, eu que agradeço a visita.
Acho que é disseminando esse tipo de posicionamento que contribuímos para um mundo melhor. 🙂
Beijo e volte sempre!
Adilson Barros dos Santos
7 de julho de 2016 em 19:56
Compartilhei teu excelente texto. Descreve muito bem minha orientação na cozinha.
Também não sou Chef, me vejo como cozinheiro autodidata, cozinho e pesquiso alimentos há mais de trinta anos, desde o tempo em que cozinhar se chamava “Arte Culinária” e era “serviço de mulher”.
Entrei meio forçado porque não conseguia, no planejamento, modular adequadamente uma cozinha nos meus tempos da faculdade de arquitetura e nunca mais parei. Por paixão. Já examinou a história dos povos através da sua alimentação? A arte? As soluções, às vezes magníficas?
Criei meus filhos cozinhando para eles diariamente e os ensinei também a preparar seus próprios alimentos e a importância disso. Deu certo, cozinham bem hoje, para satisfação de suas companheiras.
Te desejo sucesso e felicidades neste belo caminho que você escolheu.