Um passeio pelo Mercado de Pinheiros, em São Paulo
O Mercadão de São Paulo já virou ponto turístico que não pode ficar fora de qualquer visita à capital paulista. O problema é que ele ficou tão famoso que junta gente demais e, com isso, os preços foram lá pra cima. Uma dica legal para quem gosta de fazer passeios relacionados a comida (e quem não gosta?), é optar por uma alternativa um pouco mais modesta mas igualmente interessante: o Mercado Municipal de Pinheiros.
Lá não tem o “verdadeiro” sanduíche de mortadela, mas o espaço reúne nomes como Rodrigo Oliveira (restaurante Mocotó) e Checho Gonzales (Comedoria Gonzales), que substituem com certa vantagem o lanche exagerado. Além, é claro, das bancas de frutas diferentes e das carnes, peixes, temperos e especiarias, queijos e embutidos especiais. E com direito a preços mais camaradas.
O Mercado de Pinheiros, na verdade, é bem antigo. Mas, por muitos anos, cumpriu apenas o papel de atender os moradores dos arredores como um entreposto de produtores e compradores dos produtos vindos das cidades vizinhas. Em 2014 foi iniciado um movimento de revitalização que chegou a reunir eventos de comida de rua e culminou na instalação da Comedoria Gonzales. Nela, o chef Checho serve cebiches e alguns outros quitutes da culinária boliviana.
Com curadoria do chef Alex Atala, no ano passado o espaço foi reinaugurado com um toque mais “gourmet” e alguns boxes antigos passaram a ser ocupados pelo Instituto Ata, para comercializar produtos de três biomas brasileiros: Mata Atlântica, Cerrado e Pampas. Inevitavelmente ganhou destaque na imprensa e o público aumentou quase que 50% desde então. Logo em seguida foi a vez do restaurante Mocotó instalar uma mini-filial e trazer alguns itens do famoso cardápio.
Os 4.000 m² de área de vendas que ficam entre o Largo da Batata e a Teodoro Sampaio atualmente são divididos em 40 boxes que abrigam empórios e mercearias (cereais, grãos, condimentos e especiarias, doces e enlatados em geral, etc.); frios e laticínios; quitanda (frutas, verduras e legumes); açougues, peixaria e avícolas; charutaria e floricultura.
O piso térreo é praticamente todo ocupado por coloridas e perfumadas bancas com hortifrutis — tudo bem fresquinho e com muita variedade. E preserva aquele clima de mercadão mesmo, com o pessoal negociando descontos ou brindes para as compras. Ao redor do espaço, ficam os boxes mais tradicionais, com potes e mais potes de temperos e especiarias, além de produtos pendurados por todos os cantos. Entre eles, muitas opções do queijo Canastra, tido como o melhor queijo do país.
Atualização: segundo a leitora Christina Lamberti, às quintas-feiras tem o sacolão com preços sedutores e tudo muito fresquinho. Aproveita!
É por ali também que ficam os boxes do Instituto Ata, com os ingredientes tradicionais da culinária nacional. Da Mata Atlântica vêm a cachaça curtida com cambuci e a geleia de cambuci, o tucupi congelado ou concentrado, as potentes pimentas baniwa e o mel dos índios do Xingu.
Dos Pampas gaúchos são trazidos produtos como o queijo serrano, o arroz-cachinho de Sentinela do Sul, o mel branco de Cambará do Sul e o charque de Santana do Livramento. Da região do Cerrado chegam o óleo de babaçu, a farinha de jatobá e a castanha de baru.
Se você não se satisfazer provando todos os queijos, embutidos e frutas possíveis e imagináveis, é só subir ao mezanino e se deliciar com a diversidade de opções.
O Mocotó Café ocupa os boxes 62 e 63 e, além dos Dadinhos de tapioca, serve das 8h às 11h, um café da manhã sertanejo, com itens como cuscuz nordestino ou tapioca com manteiga de garrafa e carne seca, por exemplo. Para o almoço, o cardápio traz o baião de dois (simples ou completo) e o escondidinho de carne seca, mais um prato do dia com receitas variadas da matriz da Vila Medeiros. E, para acompanhar, a excelente cerveja da casa, a Mocotó Helles, produzida pela Bamberg.
No boxe 85, a Comedoria Gonzales serve cebiches de peixe do dia ou o de frutos do mar, que podem ser temperados com quatro opções de marinadas. Como alternativa, prepara assados, como chicharrones (costelinhas suínas glaceadas) e galeto, que podem ser acompanhados de batata inglesa ao alecrim, batata bolinha ao alho, batata doce com tomilho ou salada de batata. Há também sanduíches e salteñas e, de sobremesa, o bolo três leches. Uma porção de cebiche não vale por uma refeição, mas é um dos mais gostosos que já provei na vida.
Mais recentemente, foi inaugurada a Napoli Centrale (boxes 83 e 84), uma pizzaria que faz a redonda tradicional napoletana, a pizza frita típica de Nápoles e porções diversas (como bolinho de polenta ou de risoto). De acordo com o site da Associação das Verdadeiras Pizzas Napolitanas, é uma das duas únicas pizzarias em São Paulo que utilizam a legítima receita italiana — e só por isso já vale a pena experimentar.
Ao longo dos corredores, há mesas e balcões onde os pratos podem ser consumidos, mas eu recomendo fortemente que você dê preferência à área externa, que tem muitas mesas e bancos disponíveis em um deck agradável (e quase sempre mais vazio do que a parte interna).
Depois de comer, passe pela famosa peixaria Nossa Senhora de Fátima, box 69, e adquira um kit paella ou então lindos peixes e folhas de bananeira para preparar em casa. Lá você também encontra mariscos e ostras, siris e caranguejos, camarões, lagostas, polvos, lulas e vieiras, por exemplo. E tudo fresquíssimo!
No Entreposto da Feijoada (boxes 13 e 14), além de todas as carnes que você quiser, tem também queijos e uma manteiga maravilhosa vendida a granel.
Os tradicionais potes de especiarias de todo o mundo do Laticínios D’oro foram mantidos no novo Dëlika (do chef Bruno Alves, da Kød Burger), que ocupa os boxes 6 e 7 e comercializa bresaola, presunto cozido, gravlax, pastrami e rosbife, tudo feito lá mesmo. Foi onde comprei um queijo canastra defumado, simplesmente irresistível.
Já feijões de todos os tipos estão à venda na Mercearia Grãos Integrais (boxes 4 e 5), que tem o fradinho, o azuki, o roxinho, o jalo, o rajado, o vermelho, o de corda, o andú, o moyashi…
Para quem quiser levar um bom pedaço de queijo da Canastra, recomendo o Armazém São Paulo (boxes 11 e 12). Há vários tipos e pontos de cura diferentes e com o melhor preço que encontrei. Os embutidos e petiscos também valem a pena — experimentei quase todos, confesso!
E, para acompanhar essas delícias todas, não deixe de passar pela L’Adega (boxes 64 e 65 ), que reúne grande variedade de cervejas especiais de diversas nacionalidades, espumantes e vinhos, assim como os mais diversos tipos de destilados, entre cachaças, whiskies, licores, vodkas, vermutes etc.
SERVIÇO
Mercado Municipal de Pinheiros (Mercado Municipal Engenheiro João Pedro de Carvalho Neto)
R. Pedro Cristi, 89 — Pinheiros — São Paulo/SP
Funcionamento: de segunda-feira a sábado, das 8h às 18h. Fechado aos domingos.
Vá de metrô: Estação Faria Lima (linha amarela), saída no sentido Teodoro Sampaio.
Katiana Maia
12 de fevereiro de 2017 em 0:23
Eu fui a esse mercado quando pequena e lembrava dele sujo e muito feio. Poxa, fiquei surpresa com o que fizeram. Preciso visitar novamente.
Luciana Carpinelli
12 de fevereiro de 2017 em 18:09
Katiana, está muito bonito. Vale a pena o passeio! 🙂
Arnaldo
14 de fevereiro de 2018 em 19:53
Ingredientes de qualidade e os equipamentos certos fazem a diferença.