Alimentação e ansiedade: como lidar na quarentena?
Em março de 2020, quando começaram os rumores sobre a possibilidade de isolamento domiciliar devido ao novo Coronavírus, surgiram diversos memes na internet dizendo como as pessoas começaram e iriam terminar o período de quarentena, insinuando o ganho de peso durante este tempo em casa e o desenvolvimento de compulsão alimentar. Com o passar dos dias, a quarentena foi se estendendo e consequentemente a preocupação das pessoas, aumentando.
Neste momento em que estamos vivenciando uma pandemia, será que um eventual ganho de peso é o maior dos nossos problemas? As questões que envolvem a alimentação são relevantes apenas durante uma pandemia ou já existe algo desajustado na relação das pessoas com a comida? A mudança na rotina leva a consequências na forma como comemos, mas isso não é necessariamente um problema.
AUMENTO DO PESO
De início, é importante explicar que essas mensagens não fazem sentido, pois em um mês não é possível comer de forma que aumente em torno de 40 quilos o seu peso atual.
Vale lembrar que não é ideal ter uma balança em casa e ficar se pesando constantemente, uma vez que o nosso peso varia ao longo do dia e está tudo bem. As balanças caseiras não apresentam as condições ideais para “medir” o peso, ao contrário dos instrumentos utilizados pelos profissionais da saúde.
Não é porque você engordou em casa que se tornou obeso. A obesidade não se deve apenas ao ganho de peso, está relacionada a diversos fatores, sendo alguns deles próprios do nosso próprio organismo e outros causados pelo ambiente em que vivemos.
ISOLAMENTO SOCIAL E ALIMENTAÇÃO
Existem diversos motivos pelos quais alguém come e, às vezes, nem é a fome em si, mas sim uma vontade de comer. Comemos por diversos motivos, desde simplesmente por ter o alimento em casa, alguém te oferecer um pedaço, sentir o cheiro, por tédio ou até mesmo por ansiedade.
Muitas pessoas estão descontando sua ansiedade na comida, por encontrarem nos alimentos uma forma de alívio, mas nem sempre isso significa que elas tenham compulsão alimentar. O transtorno da compulsão alimentar é uma doença que possui critérios diagnósticos específicos, e acredite, você comer um pouco a mais do que seu habitual não é um deles.
QUAIS ALIMENTOS REDUZEM A ANSIEDADE?
Neste período, aumenta a procura por aquela lista de alimentos que devem ser evitados e quais devem ser consumidos para ajudar na ansiedade e tornar as pessoas mais calmas, mas deixa eu te contar uma coisa:
Existem nutrientes e compostos (presentes nos alimentos) que em determinada quantidade podem influenciar na ansiedade, porém apenas o seu consumo não é o suficiente — sua ação depende de diversos fatores que vão além da ingestão dos alimentos. Muitas vezes, o efeito placebo, ou seja, o que nós acreditamos sobre determinada coisa, é o maior responsável por nos deixar mais calmos, do que o próprio alimento em si.
Em vez de buscar essas listas milagrosas, de ir correndo atrás de alguns alimentos e cortar os outros da sua vida, que tal pensar diferente?
Aqui vão algumas dicas:
– Escolha: Pense nos alimentos que você tem disponível hoje, na sua casa ou que esteja dentro do seu orçamento para comprar. Entre eles, qual você está com vontade de comer?
– Planeje: Após escolher este alimento ou preparação, se programe para consumir. Toda vontade que é verdadeira e genuína não tem urgência, pode ser planejada e faz parte de uma alimentação saudável.
– Respire: Antes de consumir o alimento tenha calma, mastigue a comida e não suas preocupações. Preste atenção no momento presente e aproveite todos os sabores do que você está comendo.
– Busque ajuda: A alimentação é um dos fatores que se relacionam com a ansiedade. Porém, é importante saber que em certos casos deve-se procurar um profissional especializado para te ajudar (nutricionista, psicólogo ou ambos de forma combinada).
Lidar com a alimentação de uma forma adequada é uma das maneiras que podem ajudar com a ansiedade em meio à situação atual. Respeite suas preferências na hora de escolher os alimentos, não siga recomendações duvidosas e, mais importante, consuma alimentos que te façam feliz para melhorar a sua relação com a comida.
Mariana Ribeiro é nutricionista, aprimoranda em transtornos alimentares e técnica em Nutrição e Dietética. É apaixonada pela ciência bioquímica e fisiológica da Nutrição, e acredita ser essencial associar esse conhecimento com o comportamento alimentar de forma que seja possível melhorar a relação das pessoas com os alimentos e o ato de comer, favorecendo a saúde e a adequada nutrição.
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